A paisagem portuária da foz do ItajaÃ-Açu
Apresentação
O presente trabalho propõe um profundo mergulho na paisagem portuária da foz do rio Itajaí-Açu e busca entender a complexa relação de interdependência entre o Porto de Itajaí e as cidades de Navegantes e Itajaí. Desde sua gênese, o porto influencia, cria e transforma a paisagem, estabelecendo diferentes relações com o município ao longo dos ciclos econômicos. Essas relações variaram desde um cais vivo e pulsante conectado ao centro de Itajaí, até uma área marcada por rígidas fronteiras e extensas áreas de armazenamento de contêineres. Para entender esse processo, a pesquisa utiliza a escrita cartográfica como mecanismo de combinar pesquisa histórica e a caminhada como ferramenta estética, que neste trabalho é caracterizada como deriva. Essa abordagem visa experimentar o comportamento das cidades em uma aproximação às suas dinâmicas do cotidiano, através de uma deambulação pelas margens do rio. Os capítulos do texto estão organizados em torno de momentos-chave das caminhadas, com foco para os vestígios da transformação da paisagem e as diferentes atmosferas consequentes desse processo. Diferentes partes da cidade buscam fugir da obsolescência: no centro fundacional, os casarões de arquitetura típica dos imigrantes alemães caem em desuso, até serem demolidos ou modificados para se adequarem à falsa imagem tradicional açoriana na cidade; nos espaços industriais, áreas da cidade são desmanchadas para evitar o colapso do porto, que traz à tona o conceito de “cidade genérica”, onde a constante renovação elimina as diferenças que definem a identidade histórica do lugar e o homogeneíza. O que resta em cada uma dessas paisagens são suas respectivas ruínas, e não necessariamente escombros de uma ou várias construções, mas o resíduo da história na operação do cotidiano. A abordagem subjetiva revela cidades que coexistem e são invisíveis umas às outras. Quando colocadas lado a lado, desvelam a experiência estética de duas cidades de um rio tensionado pela necessidade de modernização e suas reminiscências.
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