Trabalhos de Conclusão de Curso

Trabalhos orientados por Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, Prof. Dr.

Foram en contrados 11 trabalhos

2019-1

De Dreizehnlinden a Treze Tílias

De DreizehnlindenTreze Tílias, a cidade que considera-se “um pedaço da Áustria no Brasil”, pertence à um momento histórico recente. Fundada em 13 de outubro de 1933, foi concebida através de um Plano de Imigração com diretrizes específicas, que foram determinantes à formação e expressão de seu território. Mantendo vínculos estreitos com a Áustria, principalmente a região do Tirol, são diversas as manifestações e grupos culturais existentes desde sua fundação; a culinária, os grupos de Danças Folclóricas, a Banda, o Coral, o estudo da língua alemã, assim como o trabalho da madeira, seja nas esculturas ou na carpintaria. Estas representam parte de uma identidade historicamente construída, testemunhas da perpetuação de uma herança de determinada população, tempo e lugar.

Aquela parte vinculada ao Patrimônio Histórico edificado teve, ao longo do tempo, elos de identidade diversos; além da manifestação da cultura austríaca, emigrantes alemães e italianos também participaram na construção da paisagem de Treze Tílias. A partir da década de 1980 existiu a perpetuação, e posteriormente a obrigatoriedade, do chamado “Estilo Austríaco”, “Estilo Típico Trezetiliense” ou “Estilo Típico Tirolês” de construir. O mesmo pode ser carregado de significado, desde às técnicas construtivas que o caracterizaram, aos artesãos que seu rastro nele deixaram, aos rituais sob os quais foi construído, ao tempo em que existiu. No entanto, ele serve à produção cenográfica do "Tirol Brasileiro“ nos moldes da construção civil no Brasil, reduzindo-se à reprodução de determinados elementos de composição na fachada de edificações, independentemente de seu uso, gabarito, característica da via ou método construtivo. Seu potencial de ressignificação da memória desse lugar se reduz à reprodução de uma imagem que somente os olhos podem tocar. Como consequência, há a desvalorização e a descaracterização ou a demolição de edificações de valor histórico e artístico que não estejam em conformidade com os parâmetros estabelecidos ou que não mais cumpram as funções sociais, estruturais ou econômicas contemporâneas.

A visão é uma construção histórica. O entendimento desse olhar - a leitura do repertório imagético que levou à perpetuação dos símbolos existentes nesse lugar - através de fotografias e narrativas construídas ao longo do tempo; perpassa o entendimento dos lugares de memória desse território, vinculados àqueles que atualmente são idealizados como objetos de observação e consumo pela atividade turística. A criação de um movimento que desperte nestes lugares o testemunho do resto que ali existe - seja através do espaço, do gesto, da imagem ou de um objeto - pode ressignificar um rastro da memória transportada pela história. 

Pela Banda do Ribeirão

Pela Banda do Ribeirão

A colonização açoriana trouxe diversos aspectos culturais para as freguesias da Ilha de Santa Catarina. Assim, a implantação geográfica das freguesias mais a população de imigrantes nos rendeu uma rica identidade cultural, que somada à entidade - objeto de estudo desta pesquisa - nos mostra a importância destes elementos como patrimônio cultural.

Porém, antes de situar o objeto,  tratarei de alguns conceitos que influenciam diretamente na compreensão do assunto: a cidade contemporânea, espaço, paisagem, lugar e patrimônio cultural. O estudo foi  dirigido em três escalas. Na primeira, sobre a imigração açoriana no Ribeirão da Ilha. Na segunda escala, o foco será a freguesia. A partir disso, iremos verificar a importância da entidade ligada às práticas da comunidade, que é a terceira escala - das pessoas - como patrimônio cultural imaterial.

O objetivo é verificar a importância dessa instituição como patrimônio imaterial, com base nos conceitos citados anteriormente, já que em seu núcleo há uma sobreposição de tempos históricos, evidentes influenciadores de traçados culturais. A entidade escolhida é extremamente ligada à dinâmica social do bairro e se chama Sociedade Musical Recreativa Lapa.

Como método utilizei história oral, realizando cinco entrevistas com moradores e, acima de tudo, produtores da cultura que permeia tanto o Ribeirão como a entidade escolhida. Análise de documentos, como fotos históricas, livros e textos escritos pelos entrevistados também fizeram parte do método. E para ilustrar e entender as práticas do objeto no espaço público, foram feitos croquis a partir de fotos, a fim de explicitar os dois planos banda-paisagem, variando de urbana ao natural.

A Banda da Lapa, como é conhecida, é analisada neste trabalho a partir de cinco grandes faces. Começando com a interface pública, sua prática e suas relações com o lugar. A partir disso, ramifico em suas ligações com a Igreja, o carnaval, a comunidade e a música ilhoa. Terminando a parte teórica numa breve justificativa para registro desta entidade centenária como patrimônio imaterial de Florianópolis.

O Processo de Registro

Paralelamente, segui em outra frente para o trabalho que é a tentativa de Registro de Patrimônio Cultural Imaterial de Florianópolis. Esta ideia surgiu depois de pesquisas mais aprofundadas para a realização da parte teórica. O registro é para a entidade e sua prática, não o espaço físico que ela ocupa. O bem seria registrado no livro de Formas de Expressão. Inicialmente, seria somente a Banda da Lapa, e todos os textos foram feitos pensando nesta finalidade. Porém, houve uma proposta por parte da Casa da Memória para realizar um processo para as Bandas Centenárias da Ilha, sendo elas: a Sociedade Musical Recreativa Lapa, a Sociedade Musical Amor à Arte e a Sociedade Musical Filarmônica Comercial. Os capítulos deste trabalho, além da reunião e organização, por parte da Banda da Lapa, integram no dossiê de início de registro do processo.

 A proposta

Proponho um estudo preliminar, com caráter de salvaguarda,  que leve todas estas questões discutidas na parte teórica e no registro do bem. Será proposto uma readequação do espaço da Banda, articulando a quadra onde a mesma está inserida, que em seu miolo, estará interconectada pelo eixo escola Dom Jaime - Centro Social - proposta de espaço público - trapiche, formando um percurso cultural que liga as atividades das escolas, as feirinhas do Centro Social e a escola de música e sede da Banda. Este espaço terá como função propiciar expressões e apresentações culturais.

2018-2

Desdobrar Cidade: Leituras da Cidade Acervo

A cidade acervo

A cidade é um apanhado de documentos materiais e imateriais: em especial, os núcleos antigos podem ser entendidos e explorados como verdadeiros acervos da evolução da cidade, por serem lugares com maior acúmulo de tempos (SANTOS, 1997). Mais ainda, os centros fundacionais também podem ser considerados acervos vivos, pois os objetos acumulados em seu território são continuamente atualizados e reinseridos na vida cotidiana a partir das práticas do lugar, o que os mantém no devir histórico.

Nesse sentido, para este trabalho, a cidade acervo (vivo) é aquela na qual se aprecia a continuidade da vida urbana – se entende por vida urbana aquela que abraça as atividades e camadas populares, prin­cipalmente porque estas são marcas dos núcleos antigos das cidades deste país. Mantida essa vocação, fica resguardado um sentido que apenas esses centros fundacionais tem para as suas cida­des. Assim, a cidade acervo também cumpre com uma missão educadora, sendo capaz de ampliar o sentido de cidadania justamente por ser lugar de resistência e de garantia do direito à vida urbana.

 

***

Desdobrar cidade é um movimento de decupagem da cidade acervo. Esse movimento se realiza no ato de desdobrar ele­mentos e objetos da paisagem – em fotografias – do centro funda­cional de Florianópolis, revelando narrativas vinculadas às dobras. Com isto, busco mostrar a paisagem em evolução, cujas transformações – processos de ruptura, atualização, continuidade, resistência – paradoxalmente permitiram a manutenção do sentido do lugar e a sua contínua reinserção no curso do tempo. Busco também mostrar a vida que anima tais paisagens; o urbano rico e complexo sendo desvelado por entre as dobras da cidade acervo.

Há uma parte do material que é analógica, podendo ser acessada na prancha física

 

2018-1

Memória e Imaginação: Ensaios sobre o “Parque da Cidade Roberto Burle Marx”

 

O presente trabalho, motivado pela memória afetiva que carrego de minha cidade natal, se define por um ensaio propositivo para o Parque da Cidade Roberto Burle Marx, maior parque público de São José dos Campos-SP. A paisagem do parque é composta pela sobreposição de diferentes momentos históricos: as instalações de uma antiga fazenda, um complexo fabril desativado, jardins projetados por Roberto Burle Marx e diversos edifícios modernistas de autoria de Rino Levi, muitos destes subutilizados. Desse modo, o ensaio é o resultado de um debruçar-se sobre o existente, tomando-o como substrato fértil para a imaginação das possibilidades contidas condição atual.  Este se comunica-se por meio de aquarelas, que se tornam a substância que dá forma à imaginação e expressa qualidades e dimensões que não poderiam ser contemplados pela representação técnica. Pretende-se aqui, antes de planejar e demonstrar a exequibilidade de tais ações, estimular e convidar o leitor a co-imaginar estes possíveis, envolvendo-os com a singularidade do Parque. 

Link para o caderno: 
https://issuu.com/arqmariaeduardalima/docs/terceiro_teste_caderno_issu​

 
 
 

2017-2

A arte do encontro, um estudo a respeito da identidade desde a América Latina à Lagoa da Conceição

O ponto de partida do trabalho foi um questionamento que se formou da metade para o final do curso, quando percebi que eram pouquíssimas as referências latino americanas usadas durante as aulas: Se somos tão semelhantes, com histórias em parte compartilhadas, porque insistimos em buscar referência para as nossas questões tão longe daqui? Na tentativa de encontrar os porquês, mergulhei na nossa história atrás de respostas e de justificativas para a relevância desses questionamentos. Fui de Milton Santos, Eduardo Galeano, a Ramon Gutierrez. Da economia à arquitetura buscando fatores de aproximação. E encontrei-os relacionados à formação da nossa identidade cultural (ou a falta dela). Por fim, transportei a temática, já dentro do âmbito urbano, para o Centrinho da Lagoa, com as suas devidas justificativas, passando por uma experiência imersiva em Medellín, Colômbia, a qual me serviu de referência para o estudo de caso. A proposta, que se apresenta mais como materializacao desses questionamentos e as respostas encontradas do que de um projeto de intervenção propriamente dito, atua sobre os espaços de públicos do bairro, criando uma rede, partindo do entendimento de que as identidades sociais e culturais de um lugar necessitam do encontro das pessoas para que se forme e fortaleça.

Enseada de Brito _ Patrimônio e desenvolvimento

               O estudo na freguesia da Enseada de Brito deve-se ao fato da região ser o povoamento inicial do município de Palhoça, e um dos primeiros em Santa Catarina. A localidade está situada entre o mar e a Serra do Tabuleiro, se destaca pelo patrimônio natural, histórico e cultural. Os exemplares de arquitetura luso brasileira formam um conjunto patrimonial composto pela praça e 11 edificações históricas tombadas pelo IPHAN.

               Ao analisar o histórico percebe-se que a Enseada de Brito não teve um crescimento expressivo, talvez pela fundação da freguesia de Palhoça mais próxima de São José ou pelo seu acesso feito durante muito tempo apenas pelo mar. A freguesia manteve a cultura açoriana e ainda preserva muitas atividades culturais herdadas dos seus colonizadores.

               Busca-se então, criar uma relação entre o patrimônio material e imaterial como uma forma de requalificar os bens tombados, símbolos de uma cultura e detentores de uma história, valorizando e reavivando a cultura -  artesanatos, festividades e gastronomia.

               Através de estratégias de requalificação urbana evidenciando suas potencialidades paisagísticas patrimoniais e culturais. Introduzir a educação patrimonial na busca da inserção de conteúdos culturais a partir dos valores da própria comunidade.

               Assim criar um equipamento cultural inserindo a educação patrimonial que conecte as potencialidades e mostre para a população a importância do patrimônio e da sua conservação para a identidade local.

Inquietações sobre o vazio: o estado das multi-realidades

Palavras chave: vazio; multi-realidades; espacialidades urbanas.
 

O projeto compreende o vazio como estado contentor das multi-realidades, tendo em consideração a coexistência de diferentes atores urbanos e modos de habitar a cidade. Busca-se entender o espaço arquitetônico e urbano na complementaridade dos diferentes corpos que suporta, colocando-os em uma relação de equilíbrio dinâmico e não dicotômica. A primeira questão lançada pelo trabalho se concentra em entender como a arquitetura e o urbanismo, sendo essas materialidades que não possibilitam facilmente grandes transformações formais, podem permanecer como corpos físicos ainda que sua relação com o sujeito, a mesma que os mantém existentes, é de total impermanência. Qualquer materialidade lançada deverá, assim, suportar as modificações de seus atores e da natureza de suas ações. Mas quais seriam os elementos sensíveis que estabeleceriam a relação entre sujeitos e objetos? Com o uso de mídias variadas, explora-se no processo a construção subjetiva de possíveis imagens do centro fundacional de Florianópolis a partir das vivências particulares do autor nas diferentes espacialidades urbanas, temporalidades e na consideração dos valores humanos presentes em cada lugar experienciado. O projeto não é tido como conclusivo, talvez o que menos se almeja seja a conclusão de questões e do questionar. As inquietações que estimularam e que ainda estimulam a discussão do tema são continuadas e tornam o processo um encaminhamento para um novo processo.

 

Caderno no seguinte link: http://bit.ly/diogojeremias 

2017-1

Reestruturação e reorganização espacial do Cemitério São Francisco de Assis no Bairro do Itacorubi - Florianópolis

MORTE In Urbe O ESPAÇO DA MORTE NA CIDADE

Reestruturação e Reorganização Espacial do Cemitério São Francisco de Assis no Bairro do Itacorubi - Florianópolis

Toda jornada tem seu fim, as aventuras são definidas pelo seu fim, pelo término, Odisseu seria apenas mais uma baixa de guerra se não tivesse retornado a Ítaca, sua história teria sido perdida, seus feitos perderiam importância, e usaríamos outro termo no lugar de Odisseia para denir jornadas difíceis. Não pretendo diminuir a importância da jornada, apenas ressaltar a grandeza e a inevitabilidade da conclusão. Alfa e Omega são faces opostas da mesma moeda, ambos definitivos e ambos necessários para nossa compreensão de mundo. Não conseguimos compreender coisas infinitas, podemos extrapolar, criar teoremas, equações e suposições, porém não conseguimos, realmente, entender. Somos seres finitos e, portanto, medimos o mundo e as coisas que nele situam-se por sua nitude, por sua duração, seu tempo.

O tema deste projeto traz a tona outro desfecho, que muitas vezes é negligenciado, até mesmo por nós arquitetos e urbanistas, porém é inevitável e comum a todos. Poderíamos dizer que trata-se da própria definição de término, a morte. Assim, mais que um exercício projetual, este trabalho busca a reflexão sobre este assunto claramente contraditório. O tema refere-se à cidade. Refere-se ao Urbe, espaço, às pessoas, às funções e à arquitetura da cidade. Ou seja, trata dos espaços que a morte ocupa na sociedade e na urbe, cidade, trata de cemitérios. Mais especificamente, de um cemitério, o cemitério de São Francisco de Assis no bairro do Itacorubi em Florianópolis.

O cemitério do Itacorubi evidencia o descaso e a falta de preocupação  com o destino dos mortos por parte da sociedade. O sentimento é recíproco, enquanto a cidade nega o cemitério, o cemitério, por sua vez se fecha para a cidade, criando um verdadeiro buraco na malha urbana.

2016-2

Centro de Florianópolis e a Rua Jerônimo Coelho: Ensaio de urbanidade na passagem

Proposta arquitetônica para o Morro do Fortunato

         O déficit habitacional das classes populares é uma questão amplamente discutida no Brasil e, apesar dos discursos políticos, do avanço tecnológico e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda está longe de ser resolvida. As políticas públicas criadas com o discurso de amenizar este problema, resultaram em melhorias pontuais

         A participação popular na concepção dos projetos, autogestão dos recursos, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias tradicionais, processos de racionalização construtiva e canteiro inclusivo foram questões com as quais me deparei na pesquisa como caminhos possíveis para uma arquitetura social com mais vínculos afetivos com seus usuários. Mais do que isso, torna todo o processo não alienante, dignificando e empoderando as famílias que dispõem à essa proposta. Essas mesmas questões, porém são podadas pelo principal programa atual de acesso à moradia, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). Assim como também foi o BNH, o programa lança as construções de habitações de interesse social às leis do mercado imobiliário, onde construtoras tiram consideráveis taxas de lucro do pequeno orçamento estabelecido para a unidade habitacional. Orçamento que é composto por recursos públicos e por contribuições mensais das famílias contempladas

         Um exemplo que utilizei para desenvolver esse trabalho, foi o modelo uruguaio de cooperativismo de habitação, que surgiu em um momento de profunda crise social, econômica e política (similar ao nosso momento atual?). Este movimento deixa claro que a assistência técnica interdisciplinar nessa atividade é imprescindível.  No Brasil, a assistência técnica gratuita é amparada por lei, a lei no 11.888, em vigor desde 2008, porém sua implementação em nível nacional ainda é tímida. Entendo que a implementação dessa lei é fundamental para viabilizar novas possibilidades no campo da habitação social no Brasil e salutar para viabilizar projetos como este que eu proponho.

 

         Em paralelo ao desenvolvimento do meu trabalho de conclusão de curso, participei de um grupo de estudo interdisciplinar formado na UFSC em 2014 para discutir as questões quilombolas, em especial, as relacionadas a habitação. A demanda foi levantada por articuladores estaduais das lideranças quilombolas e trazidas à universidade. Algumas comunidades do Estado de Santa Catarina estavam em processo de viabilizar novas unidades habitacionais através do PMCMV Rural. A Comunidade do Morro do Fortunato é uma delas, que foi escolhida por mim para o estudo de caso do TCC..

         A Comunidade traduz, em sua essência, minhas aspirações iniciais da pesquisa. As comunidades quilombolas em geral representam, antes de tudo, resistência. A do Morro do Fortunato, nega sistematicamente as leis do mercado imobiliário, a terra é comunal, não possui divisão de lotes, é permeável e fluida. A necessidade de habitações é para o retorno de famílias da Comunidade que foram tentar a vida na cidade. Alguns moradores já trabalham na construção civil e alguns vivem da agricultura orgânica que é vendida na cidade.

         Apesar da resistência cultural que representam, suas habitações são os mais tradicionais carimbos do BNH. Muitas, de fato, foram viabilizadas pelo poder público, outras, erguidas conforme suas possibilidades econômicas e, seguiram os moldes das primeiras, negando as técnicas utilizadas por seus antepassados como o pau a pique. Provavelmente por falta de aprimoramento da técnica, somado ao status social que esta representa.

 

         A Comunidade do Moro do Fortunato está situada no alto do vale que abastece a Lagoa do Macacu, no município de Garopaba, SC.

         As terras que serviram à Fortunato Machado, nascido escravo, para plantio de café, cana, mandioca e subsistência, foram sendo passadas hierarquicamente por mais de cem anos. Hoje em dia, aproximadamente quarenta famílias habitam a comunidade, algumas plantam e/ou criam animais para subsistência, poucas plantam para venda. Toda a produção agrícola ali é orgânica. O seu Nico planta bananas , segundo ele, tem aproximadamente 50 mil pés de banana. O seu Hélio planta hortaliças para vender na feira. Existem ainda, duas cooperativas de cozinheiras que produzem doces, geleias e biscoitos.

 

         A inclusão da participação comunitária na concepção do projeto é atendida a partir de uma tecnologia construtiva modular, onde cada família poderá decidir, junto à orientação técnica, a planta de sua casa. A nível de implantação, as aspirações comunitárias foram extraídas dos documentos das pesquisas do grupo Quilombolas UFSC.

         O canteiro para a comunidade do Morro busca otimizar a produção em adequação a escala da demanda (quarenta casas). Nessa escala é conveniente o processo de pré-moldagem dos elementos, mas de maneira que não necessite grandes investimentos em maquinários, gruas e grandes caminhões para moldar e transportar as peças. Então foi decidido concentrar essa produção em um ponto da comunidade, o galpão de moldagem, onde os trabalhadores desempenhem suas funções em posições confortáveis, abrigados o sol e da chuva e concomitantemente aos processos de montagens das casas.

         Uma questão levantada pela comunidade que foi fundamental para o desenvolvimento da proposta, foi a intenção de fomentar o turismo. A carga cultural do lugar é muito forte e apresenta potencialidades nesse sentido. A própria produção de alimentos orgânicos já é, no estado de Santa Catarina, mote para redes de turismo de base comunitária, como o programa Acolhida na Colônia. Retomando a produção dos engenhos de cana centenários e disponibilizando passeios a cavalo na região e hospedagem, a comunidade já poderia se inserir nesse meio.

         A comunidade tem uma plantação de eucaliptos, os quais foram utilizados como estrutura nos equipamentos comunitários e nas habitações da proposta.

         A implantação propriamente dita das habitações ocorre em duas grandes áreas “livres”, uma logo na chegada da comunidade, e outra em uma área mais recente de expansão, do outro lado do curso d’água. Essas duas áreas, somadas as edificações existentes mantém a comunidade na escala do pedestre, onde 300m separam as casas mais distantes entre sí.

         A terra sendo um bem comunal, dá à comunidade, uma característica muito peculiar: a sua permeabilidade no espaço comum. Vai além de uma vila, ou condomínio, onde não há muros nos lotes, o espaço entre as casas, em sua maioria, não tem divisões físicas e nem abstratas, são comunitários. Não faz sentido aqui dividir a implantação em lotes unifamiliares, como estamos habituados. Então utilizei para a sinalização das futuras locações residenciais círculos de 18m de diâmetro, onde as casas estariam circunscritas confortavelmente e com espaços no entorno mantendo as características existentes.

         Cada nova área residencial recebe um equipamento comunitário. Na chegada, um galpão de moldagem, o qual posteriormente à execução das casas é equipado com uma cozinha comunitária, um ponto de venda dos produtos produzidos e quatro suítes para o serviço de hospedagem. Na área posterior ao rio, um galpão multiuso que pode servir ás reuniões, às oficinas com os jovens, pode ser um lugar de cuidadoras das crianças e abrigar as festas tradicionais do Morro. Seu subsolo ainda gera um espaço que de abrigar os possíveis equipamentos de cavalgadas e pecuária.

2016-1

Estudo cenográfico: rei lear William Shakespeare